quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Decantação

Se me pedissem para parar, eu olharia incrédulo...e continuaria minha jornada. 

As palavras que se dizem nascedouro desde texto já foram abundância de águas a regar haréns, a queda de reis no cortejo de lágrimas, a extrema-unção de um perdão sem tempo. Elas foram quaradas e curtidas a fim de se tornar um adorno magistral, Foram as vestes de pedintes na estação central. E acordaram infantes em dias de chuva antes da escola. O que há de novo nelas alguém previu em um consultório charlatão. Ou nas encostas de outro morro, na linguagem dos lobos famintos. Todo esse frio que elas suportaram prova a existência divina da lembrança. Ensaio epitáfios, porque o chão está próximo. 

Baque...


A cerca viva que corre arisca em meu rosto parece mais espessa. As mãos de Dália me acariciam e denunciam a impureza de minhas expressões faciais. A glória foi adiada para quando de sua exibição em uma adaptação para os cinemas. A simples memória de nosso encontro faz vacilar a ponta do meu lápis. Minério esse que fricciona insistente a superfície de páginas. O ato de escrever tão antigo quando as explosões vulcânicas que o geraram. Pego no sono com a baixa luz, a brisa serena e o zunido de navios que aportam. 


Acordo suado ainda desvencilhando meus braços dos ombros pesados de Ian. Dorme como quem enfia os pés na areia buscando um poço em fugas de calor praiano. A vela ainda chora a reticência da companhia de energia, que não resolveu o problema da queda. Inspiro o incenso do suor de meu parceiro, como quem faz uma prece para que o sono volte. Finalmente, a queda...


Meu personagem volta a ganhar nitidez nas cenas que seguem. E tudo que ele busca é o caminho de volta ao espaço. Um longo trajeto entre as pontes, os nomes, as palavras e as sombras bruxuleantes. 


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